domingo, 29 de agosto de 2010

Marcelo e Fernanda em: A biblioteca.

15 de março de 2009.
FROM: FERNANDA

Acordei atrasada. Havia me distraído tanto pensando em Marcelo no dia anterior, que esqueci de ativar o despertador. Levantei num pulo da cama, peguei a primeira calça que vi pela frente e puxei a regata branca do cabide. Vesti enquanto descia as escadas, indo em direção à cozinha. Enfiei pela boca um misto de mortadela e queijo, enquanto bebia um chocolate frio. Se eu demorasse mais, ia perder o ônibus. Saí correndo de casa, enfiando os livros dentro da bolsa. Felizmente, consegui chegar a tempo.

Minha amiga da faculdade, a Laura, tinha guardado um lugar pra mim ao seu lado. Fui uma parte do caminho em silêncio, lembrando do moço-que-gosta-de-cigarros. Laura achou estranho, já que nem bom dia eu tinha dito. Minha cabeça estava tão nas nuvens, que acabei esquecendo. Ela ficou me analisando durante segundos e fazia caretas.

“Que cara é essa?” Perguntei, quando percebi que estava sendo observada com caretas.
“Anda, Fernanda, pode ir me contando.. Quem é ele?” Ela me olhava com curiosidade.
“Hã? Ele? Quem?” Não daria o braço a torcer tão fácil, assim.
“Nem tente esconder de mim, tá? Só um homem podia te deixar tão abobalhada assim.”
Ela tinha vencido. A Laura me conhece há 5 anos, e não conseguimos esconder as coisas uma da outra.

“Ai, ele é... lindo.”
“Eu bem conheço a sua noção de lindo, Dona Fê. É bem distorcida da maioria e..”
“Não, sério. Ele é lindo de verdade!”
Fui contando toda a história da noite anterior. Detalhe por detalhe, apesar dela não ter dado muita atenção, por achar que não passava de mais uma das minhas paixonites passageiras.

Nos separamos assim que chegamos na faculdade. Ela foi em direção a sua sala e eu até a biblioteca. Fiz o velho percurso para chegar até lá, passando pela dona Vilma, que é a responsável na secretaria e pelo zelador.
“Bom dia, dona Vilma! Como vai a senhora?”
“Bom dia, José!”

Enfim, biblioteca. Cedo da manhã e já tinham vários livros esperando para serem colocados nos lugares. Lá fui eu, me enfiar entre as prateleiras entupidas de livros. Espalhei todos em uma meia-lua no chão, ao meu redor. Ali sentei, comecei a cantarolar baixinho e arrumar os livros. O dia era mesmo digno de música.
De repente, alguém se esbarra com força na prateleira de trás e deixa um livro de capa azul cair no chão. Fui até lá pegar, era ''Confie em Mim - Harlan Coben'', e o moço desatento ainda estava ali.

“Ei, moço. Deixou cair?” Perguntei, sem o olhar no rosto.
“É, sou um desastrado. Estou aqui pra.. pegar esse livro, ouvi falar muito dele, quer dizer, dormi pensando nele ontem... Então é isso..” Assim que ele falou, reconheci sua voz. Era Marcelo, sem dúvidas. Sorri por dentro.
“Ok, não precisava dessa explicação. Pode me acompanhar até o balcão. Eu registro ele pra você.” Tentei parecer normal, e fingir que nada havia mudado de uma noite pra cá. Afinal, duas pessoas que se conhecem no ponto de ônibus, são só duas pessoas esperando o ônibus. Nada grandioso.

Fui para o balcão registrar o livro. Marcelo me seguia. O fiz ainda meio ausente da realidade. Viajando em pensamentos, quando percebi as meias alternadas que ele calçava.

“Nova moda huh?” Disse, indicando as meias com os olhos.
“Ah, você também? Saí com pressa hoje.. precisava procurar... o .. livro.”
“O livro. Aham” Tudo no dia dele parecia girar em torno desse livro. Ou ele estava obcecado para lê-lo logo, ou realmente era meio maluco. Ele fazia do tipo maluco. Meu tipo. Meu Deus, o que está acontecendo? Estou mesmo me encantando pelo moço-que-gosta-de-cigarros?

“Marcelo? Ei..” Chamei a atenção, sacudindo a sacola com o precioso livro nas mãos. – “Toma aqui. Leva isso” Entreguei-lhe um papel verde, com seu nome escrito – “Leva o tempo que quiser lendo. Só não perde isso. Nem machuca o livro. Tá certo?” Tentei parecer uma garota legal, e acho que não surtiu efeito, porque ele soltou um “Tá”.
“Agora eu preciso ir.. tenho que continuar com as prateleiras... Bom te ver, Marcelo. Boa leitura.” Falei rapidamente. Afinal, depois de um “Tá” não seguido de “Obrigada” é o que se pode dizer. E saí.

As borboletas dentro do meu estômago já faziam um alvoroço. Eu podia estar voando, por causa delas. – Se isso fosse possível, lógico. E estava. Estava nas nuvens, abraçando o Meu Lindo. Chamo-o assim, sem que ele saiba.

O resto do dia foi tedioso. Como sempre é, dentro da biblioteca. Livros pra lá, livros pra cá. Voltei para casa, ainda pensando no acontecimento da manhã.
A noite foi inquieta. Queria logo era o outro dia. E poder ver Marcelo de novo.

Um comentário:

Marcelo Zaniolo disse...

Acho engraçado justamente o efeito que essas respostas secas e curtas, como o "Tá" do Marcelo, causam.

ACho realmente engraçado...